Se cremos na existência da alma, porque tememos a morte?
Quando ouvimos o som da chuva caindo, uma sensação de aconchego e paz começa a tomar conta dos nossos sentidos. Se fecharmos os olhos para observar cada ruído, percebemos uma sinfonia perfeita. A agua batendo nos telhados, no gramado, nas folhas das árvores e plantas, na calçada...
Porém se formos para fora dos nossos telhados e apreciarmos atentamente a chuva caindo em uma folha, podemos distinguir perfeitamente o som na folha...
Divina e perfeita natureza! Dando sinais de como somos iguais ela, pois nossos pensamentos (que criam todos os nossos sentimentos) são como o barulho da chuva caindo em várias superfícies.
E a superfície nada mais é que a nossa mente incessante, que recebe muitas informações simultaneamente...
mas quando nos aproximamos e levamos consciência à cada um de nossos pensamentos começamos a entender qual a vibração que este ruído produz em nosso corpo etérico e consequentemente irá refletir em nosso corpo físico.
E na semana que olhamos para nossos sentimentos, iremos abordar hoje o sentimento mais luminoso de todos, o inconsciente medo da vida (que reconhecemos em nossos sentimentos) e consequente medo da morte.
Mas se cremos na existência da alma, porque tememos a morte? Talvez porque a palavra em si venha carregada de muitos paradigmas. Não nos damos conta de que morremos e renascemos todos os dias, ao anoitecer ao amanhecer.... ao concluir um sonho e iniciar outro... ao encerrar um relacionamento e iniciar outro...
Tudo em nossa vida é transformação, assim como em toda natureza da que somos parte.
Este padrão se repete desde que o primeiro homem habitou a terra, estamos em pleno processo evolutivo, agora mais do que jamais estivemos. Havemos de acolher, compreender e aceitar tudo isso.
E nos textos védicos, a base de toda filosofia do yoga, encontrei algumas pérolas que fazem lembrar verdadeiramente quem somos:
Krishna, no clássico Bhagavad-gītā, declara, para seu amigo e discípulo Arjuna:
“Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir”(Bg. II. 12). “Deves saber que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível”
“Assim como o Sol ilumina sozinho todo esse Universo, do mesmo modo, a entidade viva, sozinha dentro do corpo, ilumina o corpo inteiro através da consciência”.
A consciência evidencia concretamente a presença da alma dentro do corpo. Num dia nublado, o Sol pode não estar visível, mas sabemos que ele está lá no céu, através da presença da luz solar. Embora, não possamos ser capazes de perceber diretamente a alma, podemos concluir que ela existe pela presença da consciência.
“não há continuidade para o inexistente, nem cessação para o existente”(Bg. II. 16). O corpo material vem a existir em certo momento, cresce, amadurece, gera subprodutos (filhos) e gradualmente degenera e morre.
O corpo físico, neste sentido, é irreal, pois ele desaparecerá no devido tempo. Mas, apesar de todas as mudanças do corpo material, a consciência, o sintoma da alma que está dentro, permanece imutável. Conclui-se, portanto, que a consciência possui a qualidade inata de permanência, que lhe permite sobreviver às mudanças e destruição do corpo.
”A morte é uma série de mudanças pelas quais todos passam, a separação da alma do seu corpo físico, torna-se o ponto inicial da jornada para uma vida nova e melhor. A morte não é o fim da personalidade e da autoconsciência. Ela tão somente abre a porta para outra forma de vida, em toda sua plenitude".
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